Cada região do mundo tem sua percepção própria de riscos e benefícios da internacionalização universitária

Mas há um quase consenso global de que o risco é que nem todos os estudantes se beneficiarão das oportunidades. Já instituições norte-americanas colocam bastante ênfase no recrutamento de estudantes pagantes.

Eva Egron-Polak
Secretária-geral da Associação Internacional de Universidades, em Paris. E-mail: e.egronpolak@iau-aiu.net. O relatório integral poderá ser solicitado em: http://www.iau-aiu.net

“Quais os principais resultados da 4ª Pesquisa Global da Associação Internacional de Universidades (IAU)?” Esta é uma das perguntas mais frequentes com relação à última pesquisa da Associação Internacional de Universidades – A Internacionalização do Ensino Superior: Expectativas de Crescimento, Valores Fundamentais – que apresenta informações de 1.336 instituições, provenientes de 131 países, consolidando assim um índice notável de resposta de aproximadamente 20%.  Estabelecer os tópicos para uma pesquisa que abrange tantos aspectos não é apenas desafiador, mas também potencialmente enganoso e impreciso. Desta maneira, variações regionais importantes, bem como uma gama de resultados cuidadosamente analisados demonstram um número de realidades mais diversificadas. Mesmo assim, algumas conclusões gerais realmente se destacam.

 

A importância da internacionalização

O estudo confirma a importância da internacionalização para as instituições de ensino superior. O caráter central do processo em ensino superior está claro, com a afirmação de 69% dos respondentes que declaram como sendo de elevada importância, 27% indicando que tem permanecido em patamares elevados ao longo dos últimos três anos e 30% adicionais que relatam crescimento substancial em nível de importância durante o mesmo período. Os resultados também demonstram que 75% das instituições de ensino superior que participaram na pesquisa já criaram ou estão em processo de preparação de uma estratégica ou política de internacionalização, enquanto 16% declaram a inserção de metas de internacionalização em suas estratégias institucionais gerais. As instituições europeias têm desenvolvido, em sua grande maioria, uma politica de internacionalização, com 61% das instituições de ensino superior nessa região – o que indica que já consolidaram uma politica / estratégia.

 

Liderança e benefícios

A 4ª Pesquisa Global continua demonstrando que a internacionalização é ainda amplamente impulsionada pelos principais dirigentes institucionais, tais como presidentes, vice-reitores ou reitores, qualificados como os principais fomentadores internos por 46% dos respondentes. Os resultados relacionados aos benefícios esperados demonstram continuidade ao longo do tempo, identificando a conscientização dos estudantes ou envolvimento com as questões internacionais como importante beneficio do processo.

 

Valores fundamentais e princípios

Relacionadas à recente declaração de politica da Associação de Universidades —Afirmação dos Valores Acadêmicos na Internacionalização do Ensino Superior: Um convite à ação – novas questões foram inseridas nessa última pesquisa a fim de determinar que valores ou princípios são considerados como importantes pelas instituições de ensino superior na realização do processo de internacionalização.

 

Embora tais perguntas quanto aos valores tenham provavelmente ensejado respostas de certa maneira “politicamente corretas”, é interessante observar que, em todas, exceto em uma região do mundo, o maior número de respondentes relatou que suas politicas de internacionalização se referem a “colocar os objetivos acadêmicos no centro dos esforços de internacionalização”.

 

Esse não é o caso no Oriente Médio, entretanto, onde as instituições de ensino superior afirmam que suas politicas se referem com maior frequência à integridade cientifica eética em pesquisa. As instituições africanas também relatam o mesmo, embora seja esse o segundo valor mais frequentemente referenciado em suas politicas. Notavelmente, as instituições em nenhuma outra região identificaram este valor entre os principais três valores ou princípios mencionados em suas estratégias.

 

Uma ênfase especial nos valores também foi enfocada por outras questões da pesquisa, e até mesmo de maneira mais importante pelas respostas recebidas. A equidade na internacionalização proporciona um exemplo. Em nível global e em todas, exceto por uma região (Europa), as instituições de ensino superior expressaram suas preocupações relacionadas ao acesso às oportunidades internacionais que poderiam ou se tornariam apenas disponíveis para poucos privilegiados: o maior risco avaliado foi quanto ao acesso às oportunidades internacionais estarem disponíveis apenas aos estudantes com recursos financeiros.

 

Os riscos da internacionalização

Os resultados concernentes aos riscos demonstraram uma mistura interessante tanto de pontos de convergência como de divergência entre as instituições, em diferentes regiões. Conforme mencionado acima, há quase um consenso global de que o risco da internacionalização para as instituições de ensino superior é que nem todos os estudantes se beneficiarão das oportunidades. Esse consenso se divide, contudo, quando se examinam o segundo e o terceiro maiores riscos classificados.

 

Uma ampla divergência entre as respostas regionais torna-se rapidamente evidente com as instituições africanas e do Oriente Médio, que apontam para fuga de cérebros; as instituições norte-americanas, que colocam bastante ênfase no recrutamento de estudantes pagantes, instituições latino-americanas e caribenhas, que identificam questões relacionadas ao controle de qualidade dos programas estrangeiros, e as instituições na Ásia e no Pacífico que encontram concorrência excessiva entre as instituições de ensino superior como o segundo risco mais importante.

 

Quando questionados sobre os riscos para sociedade, os respondentes divergem até mesmo no que tange ao principal risco classificado. Em nível agregado e em pelo menos três regiões, incluindo Europa, que apresentou o maior número de respondentes – o risco mais importante da internacionalização é a comercialização da educação. Contudo, a divisão desigual de benefícios da internacionalização é identificada como o principal risco para a sociedade por parte dos respondentes na África, América Latina e Caribe. No Oriente Médio, os respondentes identificaram a fuga de cérebro e a perda de identidade cultural como sendo o primeiro e o segundo risco para a sociedade, respectivamente.

 

Níveis de financiamento e escolhas de alocação

As respostas que resultam em um consenso quase integral são raras, mas os respondentes das instituições de ensino superior de todas as regiões quase por unanimidade apontaram para falta de financiamento como a barreira mais importante para avançar na internacionalização. Esse resultado é também consistente ao longo do tempo, pelo fato de uma resposta similar ter sido encontrada na 3ª pesquisa global. Contudo, questões que investigam este item mais aprofundadamente apresentam uma visão mais diversa da disponibilidade de fundos para internacionalização. Quando perguntado de que maneira o nível geral de financiamento para dar suporte a atividades internacionais especificas mudou ao longo dos últimos três anos em suas instituições, o maior número de respondentes em todas as regiões indicou que suas instituições aumentaram os fundos para mobilidade dos estudantes. Semelhantemente, o maior número de respondentes em cada região, exceto na América do Norte, indicou que suas instituições aumentaram fundos para colaboração em pesquisa.

 

Além disso, as instituições no Oriente Médio e África aumentaram seus fundos para quase metade das áreas de internacionalização, conforme proposto no questionário, o que incluiu como opções uma dúzia de atividades especificas. Isso contrasta com instituições na Europa e América do Norte, onde o aumento de fundos foi reportado pela maioria dos respondentes no caso de apenas duas atividades de internacionalização entre as 12 possibilidades.

 

As distintas escolhas estratégicas feitas pelas instituições em diferentes regiões também podem ser vistas examinando-se a alocação de fundos para atividades especificas de internacionalização e mais particularmente examinando-se que tipo de atividade recebeu aumento em financiamentos. No Oriente Médio, África, Ásia e Pacifico, por exemplo, as instituições estão investindo mais em marketing e promoção de suas instituições no estrangeiro, enquanto na América Latina e Caribe há uma ênfase mais forte namobilidade externa dos corpos docente e discente. Tais resultados estão perfeitamente em conformidade com as atividades prioritárias e desafios identificados pelas instituições em outros momentos da pesquisa.

 

Um quadro complexo

É importante ter em mente que os resultados de uma pesquisa tão extensa revelam bem mais que algumas conclusões importantes. Esta pesquisa, assim como os relatórios de pesquisas anteriores da Associação de Universidades, apresenta dados nas muitas diferentes dimensões da internacionalização e compara resultados por diferentes localidades do mundo (bem como mudanças ao longo do tempo). O relatório cobre uma ampla variedade de aspectos da internacionalização, tais como a infraestrutura de suporte que as instituições tiveram que implantar; os benefícios esperados e os riscos percebidos da internacionalização; impulsionadores e obstáculos; padrões de mobilidade institucional e metas; assim como as questões relacionadas às mudanças de currículo e resultados de aprendizado.

 

Fonte

https://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/international-higher-education/cada-regiao-do-mundo-tem-sua-percepcao-propria-de-riscos-e-beneficios-da-internacionalizacao-universitaria

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